Era uma vez...
Georgina da Costa
Martins
Você gosta de contos de fadas? Eu sou
fascinada! E foi por adorar as histórias de João e Maria, Cinderela,
Chapeuzinho Vermelho e tantas outras que resolvi estudá-las. Comecei
pesquisando sobre os países e as épocas em que elas surgiram. Fiz incríveis descobertas!
Mas o que me interessou mesmo foi a possibilidade de aprender um pouco sobre a
história das crianças do mundo por meio desses contos. Se você quiser saber o
que pesquisei e concluí, será meu
convidado especial a partir de agora.
Os contos de fadas não
tinham autores. Inventadas pelo povo, essas histórias eram contadas de uma
pessoa para outro e para outra e para outra...
E, de boca em boca, acabaram conhecidas em diversos países.
Em 1697, quando no mundo
ainda haviam muitos reis e rainhas dando ordens, um francês chamado Charles
Perrault, que adorava contar histórias para as damas da corte, resolveu juntar
todos os contos que conhecia e fazer um livro.
O título que ele escolheu alguns de vocês já devem conhecer: Contos da Mamãe Ganso. Mais de um século
se passou e, em 1812, na Alemanha, dois irmãos chamados Wihelm e Jacob Grimm,
que também gostavam muito de ouvir e estudar tais histórias, publicaram outro
livro com mais contos ainda, os Contos da
infância e do lar. Pois muito bem, aqui estou eu empolgada em falar dos
contos de fadas, deixando de lado a minha pesquisa sobre a situação da criança.
Mas é que tudo começou quando resolvi estudar um pouco a história da França do
tempo de Charles Perrault. Veja só!
Nos tempos do rei Sol
Em 1697, o rei da França era
Luís XIV, o conhecido como rei Sol porque seu palácio era todo ornamentado com
ouro e brilhava como o Sol (cá pra nós, muito parecido com o palácio da
história da Cinderela). Mas, apesar de o monarca ostentar todo esse luxo, seu
povo passava fome e sofria muito por conta das doenças e guerras da época.
A maioria das famílias mal
tinha pão para alimentar seus filhos — e pior: quando tinham o pão, este era
feito com farelos, urtigas cozidas, sementes desenterradas e até carne de
animais mortos pela peste negra — hoje chamada de peste bubônica —, doença
transmitida pela pulga do rato que, na época, também causou a morte de milhares
de pessoas.
Em meio a tanto sofrimento,
as crianças eram ainda mais sacrificadas, uma vez que os pais, por não terem condições
de criá-las, muitas vezes a abandonavam em estradas ou florestas, na esperança
de que conseguissem um futuro melhor — o que, na maior parte dos casos, não
acontecia.
Também era comum que as
crianças fossem deixadas em orfanato. No entanto, por causa da superlotação
desses lugares, muitas delas morriam por falta de cuidado, por causa da fome e
de diversas doenças. Mesmo sabendo de tudo isso, as famílias não tinham
escolha. Para elas, presenciar a morte dos filhos em casa deveria ser mais
doloroso do que deixá-los nos orfanatos.
Dos contos de fadas para a realidade
Diante desses fatos
históricos , comecei a entender porque em quase todos os contos de fadas
aparece sempre o sofrimento infantil: criança que é expulsa de casa, que é
obrigada a trabalhar, que é maltratada pela madrasta, que é aprisionada por
bruxas e ogros, além de uma grande quantidade de meninas pobres que têm como
última alternativa o casamento com príncipes.
Veja o exemplo do Pequeno
Polegar: sete irmãos foram expulsos de casa porque os pais não tinham como
alimentá-los. Essas crianças vão parar na casa de um ogro faminto (uma espécie
de bicho papão), mas conseguem escapar graças à esperteza do Pequeno Polegar.
Uma outra história que
também se refere ao abandono de crianças é a de João e Maria: dois irmãos são
abandonados na floresta pelos pais, que não tinham como alimentá-los. O menino
e a menina, depois de peregrinar pela mata, encontram uma casa feita de doces.
Imagine você o que significaria para aquelas crianças encontrar uma casa dessa!
Entendeu agora a relação
entre os contos de fadas e a realidade? É claro que essas histórias não estão
falando de pessoas de verdade, não estou dizendo que existiu um João e uma
Maria que foram abandonados pelos seus pais, nem mesmo um garotinho do tamanho
de um dedo polegar. O que quero dizer é que, naquela época, era muito comum o
abandono de crianças, e, como o povo costumava inventar histórias misturando
fantasia com realidade, esses contos foram se proliferando.
A história que não mudou
A
essa altura, você deve estar imaginando a mesma coisa que eu quando comecei a
pesquisa: que mesmo depois de tanto tempo, mais de trezentos anos depois de
Charles Perroult ter recolhido aquelas histórias, a situação das crianças em
nosso país (e em muitos outros) é ainda parecida com a de meninos e meninas
daquele tempo. Por causa da miséria, pais continuam abandonando seus filhos
pelas ruas, crianças se vêem obrigadas a trocar a escola pelo trabalho, meninas
pobres que esperam encontrar seus príncipes encantados para salvá-las da fome
acabam enganadas por adultos mal-intencionados...
O
lado triste da realidade é que nenhuma fada madrinha vai aparecer para
transformar meninas pobres em princesas, muito menos meninos famintos vão
encontrar casas feitas de doces. Embora eu desejasse ter uma varinha de condão
para fazer com que a história de todas as crianças abandonadas tivesse um final
feliz, estou certa de que essa realidade só mudará com o empenho de governantes
e o apoio de toda a sociedade.
CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS,
ano 13, n 99. Jan/fev. 2000.
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1) Nesse texto, a autora apresenta suas descobertas sobe o mundo dos
contos de fadas.
a)
Qual é o recurso usado por ela para chamar a atenção do leitor no
início do texto? Copie em seu caderno o trecho correspondente.
b)
Logo no primeiro parágrafo, a autora faz um convite ao leitor. Que
convite é esse?
c)
Considerando a linguagem usada pela autora, a que leitor esse texto se
destina?
2)
Muitos
contos de fadas têm um bosque como cenário principal. Levando em conta o texto Era uma vez..., responda:
a) O que era
comum acontecer nos bosques no século XVII?
b) Pense em
histórias como a de Chapeuzinho Vermelho ou a de João e Maria. O que o bosque
representa nessas histórias?
3)
O castelo
também é um ambiente presente em vários contos de fadas.
a) O que ele
representava no tempo do rei Sol, Luís XIV?
b) Como ele é
representado nessas histórias?
4)
Releia os
primeiros parágrafos do texto e responda às seguintes questões:
a) Quem eram
os autores dos contos de fadas?
b) Como
surgiram esses contos?
c) Quando
surgiu o primeiro livro reunindo essas histórias? Quem foi o responsável por
ele e qual o título do livro?
d) Por que as
informações dos itens anteriores foram dadas logo no início?
5)
O artigo
que você leu é composto de quatro partes, indicadas pela presença dos
intertítulos. Releia o texto, escrevendo, no caderno, qual a principal ideia
apresentada em cada uma dessas partes. Oriente-se por este roteiro:
a) A partir da
frase “Os contos de fadas não tinham autores”.
b) “Nos tempos
do rei Sol”.
c) “Dos contos
de fadas para a realidade”.
d) “A história
que não mudou”.
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