Peço desculpas por não enviar o gabarito das atividades postadas anteriormente, mas tentarei disponibilizar sugestões de respostas para as próximas postagens. Este está sendo um ano de muito trabalho e pouco tempo. Conto com a compreensão de todos. 28/11/16.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Prova de Português - 7º/8º ano

Uma história de Dom Quixote
Moacyr Scliar
Quando se fala num quixote, as pessoas logo pensam num desastrado, 1 num sujeito que não consegue fazer nada direito, que tem boas ideias, mas sempre quebra a cara. E até repetem aquela história que o escritor espanhol Cervantes contou sobre o Dom Quixote.
Ele era um daqueles cavaleiros andantes que usavam armadura, lança e escudo; percorria as planícies da Espanha num cavalo muito magro e muito feio, chamado Rocinante, procurando inimigos a quem pudesse desafiar em nome da moça que amava, e que ele chamava de Dulcineia. Pois um dia este Quixote avistou ao longe uns moinhos de vento. Naquela época, vocês sabem, o trigo era moído desta maneira: havia um enorme cata-vento que fazia girar a máquina de moer. Pois o Dom Quixote viu, nesses moinhos, gigantes que agitavam os braços, desafiando-os para a luta.
Sancho Pança, seu ajudante, tentou convencê-lo de que não havia gigante nenhum; mas foi inútil.
Dom Quixote estava certo de que aquele era o grande combate de sua vida. Empunhando a lança, partiu a galope contra os gigantes…
O resultado, diz Cervantes, foi desastroso. A lança do cavaleiro ficou presa nas asas do moinho, ele foi levantado no ar e depois jogado para longe. Para Sancho, e para todas as pessoas que ali viviam, uma clara prova de que o homem era mesmo maluco.
Essa era a história que Cervantes contava. Já meu tatara-tatara-tataravô, que também conheceu o Dom Quixote, narrava o episódio de uma maneira inteiramente diferente. Ele dizia que, de fato, Dom Quixote viu os moinhos e que ficou fascinado com eles, mas não por confundi-los com gigantes. “Se eu conseguir enfiar minha lança naquelas asas que giram”, pensou, “e se puder aguentar firme, terei descoberto uma coisa sensacional.”
E foi o que ele tentou. Não deu completamente certo, porque nada do que a gente faz dá completamente certo; mas, no momento em que a asa do moinho levantava o Dom Quixote, ele viveu o seu momento de glória. Estava subindo, como os astronautas hoje sobem; estava avistando uma paisagem maravilhosa, os campos cultivados, as casas, talvez o mar, lá longe, talvez as terras de além-mar, com as quais todo o mundo sonhava. Mais que isso, ele tinha descoberto uma maneira sensacional de se divertir. É verdade que levou um tombo, um tombo feio. Mas isso, naquele momento, não tinha importância. Não para Dom Quixote, o inventor da roda-gigante.
Extraído e adaptado de
FILHO, Otavio Frias et al. Vice-versa ao contrário:histórias clássicas recontadas. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1993.

01 - O autor, Moacyr Scliar, reconta a clássica história de Dom Quixote alterando a versão original. O artifício que utiliza para atingir esse objetivo é
A ) desmentir a história contada por Cervantes, autor do texto original.
B ) introduzir, no texto, a versão de seu tatara-tatara-tataravô, um contador de histórias.
C) confrontar as versões do seu tatara-tatara-tataravô e a de Cervantes, já que ambos conheceram pessoalmente Dom Quixote.
D ) ambientar a história em um parque de diversões a fim de torná-la mais leve e divertida.
E ) recontar a história de acordo com sua imaginação, desconsiderando totalmente a versão original.

02 - Considere as afirmações que seguem a respeito do texto lido.
I. Em suas aventuras, Dom Quixote era acompanhado por seu cavalo Rocinante, por sua amada Dulcineia e por seu fiel escudeiro Sancho Pança.
II. Sancho Pança tinha maior senso de realidade do que Dom Quixote, mas não conseguia fazê-lo desistir de suas ideias.
III. Embora normalmente Dom Quixote se desse mal em suas aventuras, na versão contada por Moacyr Scliar, o personagem atinge seu momento de glória ao inventar a roda gigante.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.   B) Apenas II.   C) Apenas III.    D) II e III.   E) I, II e III.

03- Se o narrador da história fosse o próprio Dom Quixote, a frase “Dom Quixote estava certo de que aquele era o grande combate de sua vida.” poderia ser reescrita, mantendo-se a coerência, como:
A) Eu estava certa de que estava diante do grande combate de minha vida.
B) Eu estava certo de que aquele era o grande combate de nossa vida.
C) Eu estava certo de que aquele era o grande combate de minha vida.
D) Nós estávamos certos de que se tratava do grande combate de nossa vida.
E) Nós estávamos certos de que aquele era o grande combate de minha vida.

04 - Em um texto narrativo, a história se desenvolve sobretudo com base em uma complicação e em um clímax. As ações que sintetizam essas partes, respectivamente, são
A) o momento em que Dom Quixote desafia para a luta os moinhos de vento – o momento em que ele enfia sua lança nas “asas” dos moinhos.
B) o momento em que Dom Quixote leva um tombo feio – o momento em que ele inventa a roda gigante.
C) o momento em que Dom Quixote empunha sua lança e combate os moinhos – o momento em que ele vê os gigantes e fica fascinado.
D) o momento em que Dom Quixote percorre as planícies da Espanha procurando inimigos para desafiar – o momento em que ele se apaixona por Dulcineia.
E) o momento em que Sancho Pança tenta inutilmente convencer Dom Quixote de que não havia gigante nenhum – o momento em que Dom Quixote é levantado pelo moinho e vive seu momento de glória.

 05 - Em narrativas de ficção, o narrador pode mencionar fatos ou expressar opiniões sobre a história. Considerando essa afirmação, analise os trechos selecionados, assinalando se indicam FATO (F) ou OPINIÃO (O).
a) (       ) “Ele era um daqueles cavaleiros andantes que usavam armadura, lança e escudo, […].”
b) (       ) “Naquela época, vocês sabem, o trigo era moído desta maneira: havia um enorme cata-vento que fazia girar a máquina de moer.”
c) (       ) “O resultado, diz Cervantes, foi desastroso.”
d) (       ) “Para Sancho, e para todas as pessoas que ali viviam, uma clara prova de que o homem era mesmo maluco.”
e) (       ) “Não deu completamente certo, porque nada do que a gente faz dá completamente certo; […].”

06  - Em “Pois um dia este Dom Quixote avistou ao longe uns moinhos de vento.” o uso da palavra pois pode ser explicado como
A) uma conjunção explicativa que vincula a ideia iniciada no período à frase anterior.
B) um termo que objetiva dar continuidade à narrativa, tornando a linguagem mais rebuscada.
C) uma conjunção conclusiva que mantém o mesmo sentido de então.
D) uma marca de oralidade reproduzida na escrita.
E) um recurso específico das narrativas, que imprime mais dinamicidade à história contada.
07 - Observe o período:
“A lança do cavaleiro ficou presa nas asas do moinho, ele foi levantado no ar e depois jogado para longe.”
Se as ações acima descritas, situadas no passado, indicassem hipótese (suposição), o trecho deveria ser reescrito da seguinte maneira:
A) A lança do cavaleiro ficara presa nas asas do moinho; ele fora levantado no ar e depois jogado para longe.
B) A lança do cavaleiro havia ficado presa nas asas do moinho, ele havia sido levantado no ar e depois jogado para longe.
C) Se a lança do cavaleiro ficasse presa nas asas do moinho, ele seria levantado no ar e depois jogado para longe.
D ) Quando a lança do cavaleiro ficar presa nas asas do moinho, ele será levantado no ar e depois será jogado para longe.
E) Caso a lança do cavaleiro fique presa nas asas do moinho, ele deve ser levantado no ar e depois jogado para longe.

08 - Em “(…) as pessoas logo pensam num sujeito que não consegue fazer nada direito, que tem boas ideias, mas sempre quebra a cara.” a expressão destacada é usada informalmente. Para se adequar à norma culta, mantendo-se o sentido pretendido, a expressão poderia ser substituída por
A) se frustra         B) se dá mal.     C) se coloca em confusão.
D) é mal compreendido.      E) é mal sucedido em suas ações.

09 - Em “Mais que isso, ele tinha descoberto uma maneira sensacional de se divertir.” , o termo destacado só não poderia ser substituído, sem prejuízo de sentido, por
A) maravilhosa.       
B) fantástica   
C) inesquecível.
D) espetacular.       
E) extraordinária.

Texto 2
Dom Quixote dos tempos modernos
Eu, há já algum tempo vos tinha dito
Que eu era um Dom Quixote
Que me bato mesmo sem ter lança
Sem cavalo nem Sancho Pança.
Eu sou um Dom Quixote moderno.
Faço-me sempre advogado do diabo
Bato-me contra moinhos de vento
Mas os monstros, eu compreendo
Não estão cá para me escutar.
Bato-me contra as injustiças
Sem grandes possibilidades, confesso,
Bato-me com gritos de revolta.
Mas sempre em vão, sem sucesso.
Esta noite sonhei que me batia
Contra um inimigo forte em demasia.
Ele tinha armas poderosas, aviões,
Mesmo contra essas aeronaves eu combatia,
Com jactos de água das lanças do meu jardim.
Mas batia-me, batia-me, eu sou assim.
Bato-me como posso neste inferno.
Mas que querem? Isto está em mim!
Sou um Dom Quixote dos tempos modernos.
Alberto Rodrigues da Fonseca (autor português)
Disponível em http://sacavempoesia.blogspot.com.Acesso em 15 de setembro de 2013.

10- Ao longo do poema, a forma verbal bato-me é utilizada em sentido diferente do usual. Assinale a alternativa cujo sentido do termo destacado equivale ao empregado no poema.
A) O cavalo bateu a pata na árvore com violência.
B) Os justos batem-se à vida inteira por seus valores.
C) De repente, bateu-lhe um grande arrependimento.
D) As informações não batem com os fatos.
E) Meu coração bate acelerado.

11-O Dom Quixote dos tempos modernos é um sujeito que
A) não usa lança, nem cavalo, nem combate moinhos de vento.
B) luta por seus ideais, mesmo sem obter sucesso.
C) não combate os inimigos da modernidade.
D) se mostra indignado com armas poderosas, aviões e aeronaves.
E) acredita num mundo melhor, mas nada faz para obtê-lo.

12- Considerando a relação que se estabelece entre o autor do texto e seus interlocutores, pode-se afirmar que
A) o uso de vos, no primeiro verso, indica respeito do autor por seus leitores.
B) o autor dialoga hipoteticamente com Dom Quixote.
C) o autor mostra-se indignado com as injustiças sociais e revolta-se com seus leitores.
D) o autor dialoga com seus leitores na tentativa de convencê-los a lutar pela sua causa.
E) os leitores são desconsiderados totalmente pelo autor do texto.
  Disponível em: www.google.com.br/search?q=dom+quixote+em+tirinhas
Acesso em 30 de setembro de 2013.

13 - Considerando que, no contexto apresentado pela tirinha, Dom Quixote enxerga um gigante, e Sancho Pança vê um moinho, podemos associá-los respectivamente a
A) um corajoso e um medroso.     
B) um sonhador e um realista.
C) um ambicioso e um simplório   
D)um otimista e um pessimista.
E) um privilegiado e um desfavorecido.

14- Ao analisar texto e imagem, pode-se afirmar que
A) a visão de Sancho Pança não é tão nítida quanto a de Dom Quixote.
B) Dom Quixote enxerga um gigante pelo fato de já o conhecer de outras aventuras.
C) Dom Quixote e Sancho Pança olham para o mesmo lugar, mas têm visões diferentes.
D) a expressão do gigante indica que ele estava com medo do herói da história.
E) Sancho Pança não enxerga o gigante por sentir medo.

15 -Compare os três textos e assinale a alternativa correta quanto à leitura e interpretação.
A) Os três textos ressaltam a revolta de Dom Quixote em relação à sociedade, embora o retratem em ambientes diferentes.
B) Os três textos retratam o romantismo de Dom Quixote, que vê o mundo de forma mais bonita do que realmente é.
C) Os três textos retratam o idealismo de Dom Quixote, que, mesmo em contextos diferentes, é representado como um grande sonhador.
 D) Os dois primeiros textos são fiéis à história original de Cervantes; o terceiro, por sua vez, cria um Dom Quixote típico do século XXI.
E) O primeiro texto narra a história de Dom Quixote; o segundo, transpõe a versão original para a forma poética; já o terceiro, sintetiza-a por meio de uma imagem.


terça-feira, 14 de julho de 2015

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Amigos - Luís Fernado Veríssimo

AMIGOS
Luís Fernando Veríssimo

Os dois eram grandes amigos. Amigos de infância. Amigos de adolescência. Amigos de primeiras aventuras. Amigos de se verem todos os dias. Até mais ou menos os 25 anos. Aí, por uma destas coisas da vida — e como a vida tem coisas! —passaram muitos anos sem se ver. Até que um dia.
Um dia se cruzaram na rua. Um ia numa direção, o outro na outra,Os dois se olharam,caminharam mais alguns passos e se viraram ao mesmo tempo, como se fosse coreografado. Tinham-se reconhecido.
—Eu não acredito!
—Não pode ser!
Caíram um nos braços do outro. Foi um abraço demorado e emocionado. Deram-se tantos tapas nas costas quantos tinham sido os anos de separação.
—Deixa eu te ver!
—Estamos aí.
—Mas você está careca!
—Pois é.
—E aquele bom cabelo?
—Se foi...
—Aquela cabeleira.
—Muito Gumex...
—Fazia um sucesso.
—Pois é.
—Era cabeleira pra derrubar suburbana.
—Muitas sucumbiram...
—Puxa. Deixa eu ver atrás.
Ele se virou para mostrar a careca atrás. O outro exclamou:
—Completamente careca!
—E você?
—Espera aí. O cabelo está todo aqui. Um pouco grisalho, mas firme.
—E essa barriga?
—O que é que a gente vai fazer?
—Boa vida...
—Mais ou menos...
—Uma senhora barriga.
—Nem tanto.
—Aposto que futebol, com essa barriga...
—Nunca mais.
—E você era bom, hein?Um bolão.
—O que é isso.
—Agora ta com a bola na barriga.
—Você também.
—Barriga, eu?
—Quase do tamanho da minha.
—O que é isso?   
—Respeitável.
—Quem te dera um corpo como o meu.
—Mas eu estou com todo o cabelo.
—Estou vendo umas entradas aí.
—O seu só teve saída.
Ele se dobra de rir com a própria piada. O outro muda de assunto.
—Fazem o que?Vinte anos?
—Você mudou um bocado.
—Você também.
—Você acha?
—Careca...
—De novo a careca? Mas é fixação.
—Desculpe, eu...
— Esquece a minha careca.
—Não sabia que você tinha complexo.
—Não tenho complexo. Mas não precisa ficar falando só na careca,só na careca.Eu estou falando nessa barriga indecente?Nessas rugas?
—Que rugas?
—Ora, que rugas.
—Não. Que rugas?
—Meu Deus, sua cara está que é um cotovelo.
—Espera um pouquinho...
—E essa barriga?Você não se cuida não?
            —Me cuido mais que você.
            —Eu faço ginástica, meu caro. Corro todos os dias. Tenho saúde de cavalo.
—É. Só falta a crina.
—Pelo menos não tenho barriga de baiana.
—E isso o que é?
—Não me cutuca.
—Me diz. O que é?Enchimento?
— Não me cutuca!
—E esses óculos são pra quê?Vista cansada?Eu não uso óculos.
—É por isso que está vendo barriga onde não tem.
—Claro, claro. Vai ver você tem cabelo e eu é que não estou enxergando.
—Cabelo outra vez!Mas isso já é obsessão. Eu,se fosse você,procurava um médico.
—Vá você, que está precisando. Se bem que velhice não tem cura.
—Quem é que é velho?
—Ora, faça-me o favor...
—Você.
—Você.
—Você!
—Ruína humana.
—Ruína não.
—Ruína!
—Múmia!
—Ah, é?Ah, é?
—Cacareco!Ou será cacareca?
—Saia da minha frente!
            Separaram-se, furiosos. Inimigos para o resto da vida.

1.      Em que período da vida esses dois homens conviveram?
2.     Que mudanças físicas os amigos perceberam um no outro?
3.     Até certo momento do texto, falar sobre as mudanças físicas era amistoso. Em que ponto deixa de ser assim? Transcreva as frases que marcam essa passagem.
4.     Transcreva o trecho do texto que corresponde ao clímax do conflito.
5.     O texto mostra como a relação de amizade se transforma progressivamente em inimizade. Descreva como o texto desenvolve essa progressiva oposição.
6.     O narrador, na introdução da crônica, apresenta ao leitor uma reflexão: “Aí, por uma destas coisas da vida — e como a vida tem coisas!”. O assunto da crônica justifica a reflexão do narrador? A vida realmente “tem coisas”? Justifique sua opinião com elementos retirados do texto.
a)     Para as personagens, os fatos narrados na crônica, o desentendimento dos amigos, é uma fato tenso, desagradável ou leve e divertido? Explique.
b)     Por que podemos dizer que se trata de um texto de humor?

7.     As características que uma personagem repara na outra são predominantemente negativas. Cite algumas palavras ou frases que exemplifique essa afirmação.

domingo, 5 de julho de 2015

Linguagens e Códigos: Educação Física



Mais informações em:
http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/indice-ensino-medio.shtml?ensino-medio.linguagens-e-codigos.educacao-fisica

Interpretação de texto - 8º ano

Manual de desculpas esfarrapadas
Leo Cunha
Inventar desculpas pra um "para-casa" atrasado é especialidade de alunos de qualquer idade. Eu, que dou aula há alguns anos, já ouvi as histórias mais cabeludas, contadas com a cara mais lavada do mundo. E, o que é pior, engoli a maioria.
Outro dia resolvi fazer uma enquete com meus colegas professores pra montar um manual com as desculpas mais esfarrapadas que já ouvimos. O leitor pode chiar e perguntar se nós, ilustríssimos professores universitários, não tínhamos nada mais útil pra fazer, mas sinto muito, aqui vai a lista. 
1 - A culpa é de São Pedro
Essa é das desculpas mais tradicionais. A rua alagou e eu não consegui chegar na biblioteca. Ou, eu esqueci a janela aberta e o trabalho ficou encharcado. Que pena, fessor, tava lindo!
2 - A culpa é dos outros.
Outra desculpa clássica. Foi o Joãozinho que tinha que ter comprado a cartolina e não comprou, fessor! Foi a Joana que não fez a parte dela a tempo.
3 - A culpa é do computador.
Quem nunca ouviu essa frase, vai ouvir logo. O computador deu pau, a impressora ficou sem tinta, o disquete não abriu, um vírus apagou tudo. Você sabe que computador é um bicho imprevisível né, fessor? Temperamental feito ele só!
4 - A culpa é do excesso de trabalhos
Essa costuma irritar meus companheiros docentes. Não é por nada não, fessor, mas o senhor acha que a gente só tem a sua matéria? Tava assim de trabalho pra fazer, os outros eram mais urgentes.
5 - Eu não sabia que era pra hoje.
Uai, mas ninguém avisou que era pra hoje! Eu tava crente que era só semana que vem. Ô fessor, você é tão legal, dá mais um prazinho pra eu poder terminar, o trabalho já tá bem adiantado, só falta digitar, só falta revisar, só falta grampear, só falta fazer a capa.
6 - Eu não entendi direito o que era pra fazer.
Essa é das mais descaradas, e geralmente vem acompanhada de uns dois parágrafos ilegíveis. Tá vendo, fessor, eu até comecei a fazer, mas não entendi o que o senhor tava querendo. Será que dava pra explicar de novo?
7 - Minha vó morreu.
Com todas as variantes possíveis. Afinal avó são só duas, avô também. Pai, mãe, irmão é mais arriscado, porque fica fácil pro professor conferir se é verdade ou não. Se preciso, pode-se apelar para um tio distante (mas que morou com a gente muito tempo, fessor...) ou pro gatinho siamês que era quase da família (até dormia na minha cama, precisa ver que gracinha).
8 - O supercolírio.
Desculpa a ser usada apenas em casos extremos, quando as outras realmente não colam mais. Sabe o que é, fessor? Eu fui ao oculista, pinguei um colírio daqueles brabos e fiquei seis dias com a vista embaçada. Não teve jeito mesmo de fazer o trabalho, eu bem que tentei, mas estava tão cego que acabei escrevendo em cima da receita do médico.
A lista poderia continuar por muitas linhas, mas essas aí são as mais comuns. E, pra falar a verdade, de vez em quando a gente se diverte vendo a aflição do aluno, admirando sua coragem, na hora de inventar as desculpas mais caraduras do mundo. Afinal de contas, sabemos que eles ainda estão aprendendo, não têm plena noção de suas responsabilidades e não são casos perdidos.
Duro mesmo foi ter que ouvir um Presidente da República soltar cada uma dessas desculpas esfarrapadas em pleno ano de 2001, no meio da crise de energia elétrica.
“A culpa é de São Pedro”, ele começou, esquecendo que no sul e no norte a chuva tinha sido abundante e o que faltou mesmo foram transmissores para distribuir essa energia excedente para o sudeste e o nordeste.
CUNHA. Leo. Manual de desculpas esfarrapadas: casos de humor. São Paulo: FTD, 2004,p.23-26

1.     O texto é realmente um Manual? Por quê?
2.     Como o autor se posiciona em relação a estas desculpas apresentadas pelos alunos? Ele acha que são motivos reais, justos? Retire três expressões ou trechos do texto que comprovem sua resposta.
3.     Observe o trecho em destaque  no seguinte fragmento:
         8- O supercolírio.
Desculpa a ser usada apenas em casos extremos, quando as outras realmente não colam mais. Sabe o que é, fessor? Eu fui ao oculista, pinguei um colírio daqueles brabos e fiquei seis dias com a vista embaçada. Não teve jeito mesmo de fazer o trabalho, eu bem que tentei, mas estava tão cego que acabei escrevendo em cima da receita do médico.
O trecho em destaque reproduz a fala do aluno, entretanto não há elementos utilizados tradicionalmente para indicar isto como aspas, travessão, dói-pontos.
a)    Retire do texto um outro trecho em que há citações de falas dos alunos introduzidas sem aspas, dois pontos ou travessões.
b)    Quais elementos o autor utiliza para indicar ao leitor que não se trata de uma declaração ou expressão de sua autoria, mas da citação da conversa do próprio aluno?
c)    Qual o efeito que estas citações produzem no texto?
4.     Qual desculpa parece desagradar mais o autor? E os seus colegas professores?como você chegou a essa conclusão?
5.     Uma das características básicas de uma crônica é o uso de linguagem informal, como uma conversa. Procure localizar o uso de palavras ou expressões informais na exposição do autor. (Para responder esta pergunta, você não deve considerar os trechos reproduzindo as falas dos alunos.)
6.     Releia os três últimos parágrafos do texto e escolha os termos que melhor caracterizem a reação de Leo Cunha em relação às desculpas dos alunos e à desculpa do Presidente em 2001.
 amoroso – ofendido – contrariado – indulgente – intolerante – bondoso
7.     Qual das desculpas apresentadas na crônica você acha mais esfarrapada? E qual a menos esfarrapada? Por quê?
8.     Depois de apresentar oito desculpas esfarrapadas, o autor diz que “a lista poderia continuar por muitas linhas, mas essas aí são as mais comuns.” Conte uma outra desculpa que os alunos costumam dar quando não fizerem o trabalho marcado pelo professor. Você acha que esta desculpa é esfarrapada? Os professores costumam aceitá-la facilmente?
TRAVAGLIA, Luiz Carlos; ROCHA, Maura Alves de Freitas e ARRUDAFERNANDES, Vania Maria Bernardes. A Aventura da Linguagem (Língua Portuguesa) – 8º ano: manual do professor. Belo Horizonte: Dimensão, 2012. p. 24-27.