Bob, um gato
fora do normal.
Há uma citação
famosa que diz que recebemos uma segunda chance todos os dias, mas geralmente
não a aproveitamos. Passei grande parte de minha existência provando que isso é
verdade. Mas tudo mudou no começo da primavera de 2007, quando me tornei amigo
de um gato, o Bob.
Conheci Bob
numa noite sombria. Era uma quinta-feira de março. Havia previsão de geada, por
isso cheguei em casa, no norte de Londres, um pouco mais cedo do que de
costume, após mais um dia nas ruas movimentadas de Covent Garden.
O elevador do
meu prédio não estava funcionando, então minha amiga Belle e eu seguimos em
direção à escada. A lâmpada estava quebrada, e o hall de entrada, escuro como
breu, mas não pude deixar de notar um par de olhos reluzindo na escuridão. Um
gato laranja estava enrolado sobre um capacho, do lado de fora de um dos
apartamentos do térreo. Era um macho.
Ele me encarou
com um olhar inteligente. “Então, quem é você e o que faz aqui?”, parecia
perguntar.
Eu me ajoelhei.
— Olá,
companheiro. Nunca te vi antes. Você mora aqui?
Ele continuou
me encarando, me analisando. Fiz carinho no seu pescoço, em parte para ficar
amigo dele e, por outro lado, para saber se usava coleira. Não usava.
Ele adorou a
atenção. Seu pelo era desigual, havia falhas em alguns lugares, e ele estava visivelmente
faminto. Pelo modo como encostou em mim, pude perceber que precisava de um
amigo.
— Acho que é
um gato de rua — eu disse a Belle.
Belle sabia
que eu adorava gatos.
— Você não
pode ficar com ele, James — ela me advertiu, apontando para o capacho onde o
gato estava sentado. — Provavelmente ele pertença a alguém aqui do prédio.
Ela estava
certa. A última coisa de que eu precisava naquele momento da minha vida era de
um gato. Já estava bem difícil tomar conta de mim mesmo.
Na manhã
seguinte, o gato ainda estava lá. Fiz novamente um carinho nele, que ronronou,
agradecendo a atenção.
Com a luz do
dia, pude perceber que era um animal lindo. Tinha um rosto impressionante, com
penetrantes olhos verdes. A julgar pelos arranhões em suas patas e no focinho,
devia ter-se envolvido em alguma briga ou acidente. Seu pelo era ralo e
espetado, havia buracos em vários lugares. Fiquei realmente preocupado com o
bichano.
Pare de se preocupar com o gato; em vez disso, preocupe-se com
você mesmo, pensei. Contrariado, me afastei e fui pegar o ônibus para o
distrito de Covent Garden, onde tentaria ganhar alguns trocados me apresentando
na rua.
Ao voltar para
casa, já era tarde — quase dez horas. Desci apressado pelo corredor para ver se
encontrava o tal gato laranja, mas ele havia ido embora. Parte de mim ficou
desapontada, porém, mais do que tudo, fiquei aliviado.
No dia
seguinte, meu coração deu um pulo ao vê-lo novamente, no mesmo lugar. Ele
estava mais fraco e mais desgrenhado que nunca. Parecia faminto e com frio, pois
estava tremendo.
Talvez
estivesse na hora de Bob encontrar um novo dono. Talvez ele tenha encontrado em
mim sua alma gêmea.
Foi, então,
que tomei uma decisão ali mesmo.
— Vem comigo!
— exclamei.
Senti algo
muito bom por ele estar ali no meu apartamento. Eu tinha agora uma companhia.
Novo
CExtraído e adaptado de BOWEN, James. Bob: um gato fora do normal. Ribeirão Preto: onceito Ed.,2014
Vocabulário:
1. hall – corredor de passagem para chegar a algum lugar.
2. breu – escuro.
3. ronronou – produziu ruído (os felinos).
01 - Considerando o texto 1, não se pode afirmar que se trata
A) da carência de um jovem que precisa
de cuidados.
B) das chances que podemos receber da
vida.
C) do encontro de um jovem e de um
gato perdido.
D) dos maus-tratos sofridos por
animais de rua.
E) do afeto entre pessoas e animais.
02- Enumere as frases abaixo de acordo
com a ordem em que os fatos aparecem no texto. Depois, escolha a alternativa
que corresponda à resposta correta.
( )
James e Belle viram, pela primeira vez, o gato laranja porque precisaram usar a
escada do prédio.
( )
James ficou desapontado, mas, principalmente, aliviado quando não encontrou o
gato laranja no corredor.
( ) A
previsão de mau tempo levou James a voltar para casa mais cedo do que de
costume.
( ) O
rapaz fez carinho no pescoço do animal para ficar seu amigo e, também, para
saber se usava coleira.
( ) A
companhia do gato, em seu apartamento, provocou em James uma sensação boa.
A) 2 – 4 – 1 – 3 – 5
B) 3 – 1 – 4 – 5 – 2
C) 1 – 3 – 5 – 2 – 4
D) 2 – 4 – 3 – 1 – 5
E) 3 – 4 – 2 – 1 – 5
03- Analise os trechos sublinhados das
frases abaixo e marque (F) se indicar um FATO ou (O) uma OPINIÃO sobre
determinado fato. Depois, escolha a alternativa que corresponda à resposta
correta.
( ) “Ele me encarou com um olhar inteligente.”
( ) “Na manhã seguinte, o gato ainda estava lá.”
( ) “Desci apressado pelo corredor para
ver se encontrava o tal gato laranja, mas ele
havia ido embora.”
( ) “Senti algo muito bom por ele estar ali no meu apartamento.”
( ) “Eu tinha
agora uma companhia.”
A) F – F – O – O –
F B) O – F – O – F – O
C) O – F – F – O –
F D) O – O – F – F – O
E) F – O – O – F – F
04- Se o narrador da história fosse
Belle, a frase “Contrariado, me afastei e fui pegar o ônibus para o distrito de
Covent Garden, onde tentaria ganhar alguns trocados me apresentando na rua”
poderia ser reescrita, mantendo a coerência, como:
A) Contrariado, se afastou e foi pegar
o ônibus para o distrito de Covent Garden, onde tentaria ganhar alguns trocados
me apresentando na rua.
B ) Contrariada, me afastei e fui
pegar o ônibus para o distrito de Covent Garden, onde tentaria ganhar alguns
trocados me apresentando na rua.
C ) Contrariado, se afastou e foi
pegar o ônibus para o distrito de Covent Garden, onde tentaria ganhar alguns
trocados se apresentando na rua.
D ) Contrariados, nos afastamos e
fomos pegar o ônibus para o distrito de Covent Garden, onde tentaríamos ganhar
alguns trocados nos apresentando na rua.
E ) Contrariada, se afastei e foi
pegar o ônibus para o distrito de Covent Garden, onde tentaria ganhar alguns
trocados se apresentando na rua.
05 - Em “Passei grande parte de minha
existência provando que isso é verdade“, o pronome isso se refere
A) à imensa sorte de recebermos
chances todos os dias da nossa vida sem valorizarmos essa excelente
oportunidade.
B) às chances perdidas no decorrer das
nossas vidas.
C) à ideia de recebermos uma segunda
chance todos os dias, e, de modo geral, não a aproveitarmos.
D) à prova de que uma segunda chance
deve ser aproveitada.
E) à amizade entre James e Bob.
06 - Em “Conheci Bob numa noite sombria. Era uma
quinta-feira de março. Havia previsão de geada, por isso cheguei em casa, no
norte de Londres, um pouco mais cedo do que de
costume, após mais um dia nas ruas movimentadas de Covent Garden”, os
termos em negrito podem ser substituídos, sem mudar o sentido do texto,
respectivamente, por:
A) escura - habitualmente
B) fria - usualmente
C) triste -
sempre
D) cinzenta - ontem
E) desanimadora - diariamente
07- A partir da leitura do texto e da
passagem “… tentaria ganhar alguns trocados me apresentando na rua”, pode-se
entender que James
A) se distrai com as suas
apresentações pelas ruas do distrito de Convent Garden.
B) vai para as ruas para alegrar as
pessoas que transitam por elas.
C) faz apresentações pelas ruas do
distrito para se tornar um artista.
D) tem uma ONG que protege animais de
rua.
E) se apresenta nas ruas porque
precisa ganhar dinheiro.
História de
uma gata
Chico Buarque,
Sergio Bardotti, Luis Bacalov
Me alimentaram
Me acariciaram
Me aliciaram
Me acostumaram
O meu mundo
era o apartamento
Detefon,
almofada e trato
Todo dia
filé-mignon
Ou mesmo um
bom filé... de gato
Me diziam a
todo momento
Fique em casa,
não tome vento!
Mas é duro
ficar na sua
Quando à luz
da lua
Tantos gatos
pela rua
Toda a noite
vão cantando assim
Nós, gatos, já
nascemos pobres
Porém já
nascemos livres
Senhor,
senhora ou senhorio
Felino, não
reconhecerás
De manhã eu
voltei pra casa
Fui barrada na
portaria
Sem filé e sem
almofada
Por causa da
cantoria
Mas agora o
meu dia a dia
É no meio da
gataria
Pela rua
virando lata
Eu sou mais
eu, mais gata
Numa louca
serenata
Que de noite
sai cantando assim
Nós, gatos, já
nascemos pobres
Porém já
nascemos livres Senhor,
senhora ou
senhorio Felino, não reconhecerás
Versão adaptada (www.vagalume.com.br/chico-buarque/historia-de-uma-gata.html)
Vocabulário:
1. aliciaram (linha 03) - atraíram,
seduziram, subornaram.
2. Detefon (linha 06) - inseticida
contra moscas, mosquitos, baratas, pulgas, traças, etc.
3. senhorio (linhas 17 e 31) -
proprietário de apartamento, condomínio, casa, terra ou bens mobiliários.
08 - No trecho “Mas é duro ficar na
sua/Quando à luz da lua/Tantos gatos pela rua” (linhas 11 a 13), pode-se
imaginar que a gata deseje
A) ficar em
casa.
B) sair
para as ruas
C)admirar a
lua.
D) comer um bom filé.
E) esperar o seu dono.
09 - Considerando o sentido geral do
texto 2, pode-se afirmar que
A) a condição para os gatos serem
felizes é a liberdade.
B) Detefon, almofada e trato é tudo o
que os gatos desejam.
C) os gatos circulam entre
apartamentos e ruas livremente.
D) os gatos se mostram ingratos com
seus donos.
E) gatos rebeldes ficam sem filé e
almofada.
10 - No trecho “Mas agora o meu dia a
dia/É no meio da gataria/Pela rua virando lata/Eu sou mais eu, mais gata”
(linhas 23 a 26), o estado de espírito da gata pode ser resumido pelos termos
A) convencida e arrogante.
B) livre e feliz.
C irônica e divertida.
D) frustrada e infeliz.
E ) independente e bonita.
11- Em qual alternativa abaixo não foi
sublinhada uma palavra que indica qualidade?
A) “Ou mesmo um bom filé… de gato” (linha 08)
B) “Nós, gatos, já nascemos pobres” (linhas 15 e 29)
C) “Porém já nascemos livres” (linhas 16 e 30)
D) “Numa louca serenata” (linha 27)
E) “É no meio da gataria” (linha 24)
12 - Assinale
a única frase em que o verbo apresenta noção de tempo presente.
A) “Me
alimentaram” (linha 01)
B) “O meu
mundo era o apartamento” (linha
05)
C) “Me
diziam a todo momento” (linha 09)
D) “De
manhã eu voltei pra casa” (linha
19)
E) “Mas
agora o meu dia a dia é no meio da gataria” (linha 23-24)
13- Observe:
“Eu sou
mais eu, mais gata / Numa louca serenata” (l. 26-27)
A
alternativa que apresenta palavra com sentido equivalente ao do termo destacado
é:
A)maluca
B)estranha
C)desastrada
D)absurda
E) esquisita
14-Ao
comparar o texto 1 e o texto 2, pode-se afirmar que
A) contam a
história de gatos abandonados.
B) contam a
história de gatos que nascem pobres e se tornam ricos.
C) contam a
história de reencontros entre gatos e seus donos.
D) o texto 1 conta a história de um gato sem
lar; o texto 2, de uma
gata que busca sua liberdade.
E) o texto 1 conta a história de um animal
infeliz; o texto 2, de uma
gata feliz que tem tudo o que deseja.
Prova do Concurso de Admissão do CMPA - Adaptada
1.D
2.A
3.C
4.C
5.C
6.A
7.E
8.B
9.A
10.B
11.E
12.E
13. E
14. D
12.E
13. E
14. D
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