Peço desculpas por não enviar o gabarito das atividades postadas anteriormente, mas tentarei disponibilizar sugestões de respostas para as próximas postagens. Este está sendo um ano de muito trabalho e pouco tempo. Conto com a compreensão de todos. 28/11/16.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Texto dissertativo argumentativo

Textos dissertativos argumentativos

Os textos dissertativos argumentativos procuram emitir uma visão pessoal de questões relevantes nos mais diversos campos: economia, política, comportamento, cultura, psicologia, educação, saúde, ecologia etc. Pode-se dizer que esses textos querem convencer os leitores, muitas vezes contrapondo-se ao senso comum, isto é, àquilo que todo mundo repete sem necessariamente analisar.
                O texto dissertativo deve ser bem estruturado e é por isso que se recomenda que a redação siga, em linhas gerais, o esquema abaixo, dividido em três partes.
  • Introdução – 1º parágrafo: Apresentação do tema e da tese.
  • Desenvolvimento( argumentação) – 2º ou 3º parágrafos centrais: comprovação da tese por meio de comentários e análises sustentados por dados estatísticos, exemplos, informações históricas, geográficas e científicas.
  • Conclusão – último parágrafo: Finalização da discussão, de modo a sintetizar os aspectos discutidos e reafirmar a tese. Dependendo do tema, é possível que na conclusão se anunciem propostas de ação convenientes.
1)       É aconselhável empregar a 1ª pessoa do singular?
Não. A dissertação procura convencer o leitor. Para isso, as opiniões só valem se forem comprovadas, de modo que pareçam “universalmente” válidas. Assim, não interessa tanto quem emite as opiniões, mas os argumentos que é capaz de apresentar. Daí ser preferível não utilizar o eu, mas uma linguagem mais impessoal.

2)       Pode-se empregar a 1ª pessoa do plural?
Sim. O emprego de nós se justifica quando se refere a um conjunto adequado ao tema e suficientemente compreensível no contexto: nós pode se referir aos brasileiros, a toda a humanidade, aos jovens. Não cai bem usar o nós para se referir a um grupo muito restrito, específico, como “nós, que moramos na Zona Oeste da cidade”, a não ser que esse grupo seja central para o tema da dissertação.

3)       A linguagem precisa ser formal?
Em termos. A linguagem da dissertação deve estar de acordo com as normas mais importantes da gramática (grafia, acentuação, pontuação, concordância, regência), de modo a não comprometer o entendimento do leitor nem depor contra o texto (quem confia em um autor que erra constantemente a grafia das palavras?). por outro lado, não é preciso exagerar: é péssimo hábito usar palavras desconhecidas apenas porque soam difíceis, empregar termos técnicos sem necessidade, adotar uma linguagem “barroca”, com frases longas e cheias de inversões e intercalações. Tudo o que dificulta inutilmente o entendimento do texto e parece simples enfeite deve ser evitado.

4)       Posso inventar dados e exemplos?
Não. Em hipótese nenhuma devem ser incluídos dados e exemplos que não correspondam à realidade. A dissertação, como qualquer outro texto opinativo argumentativo, não pode, sob pena de perder a credibilidade, falsificar informações para comprovar um ponto de vista.

5)       É aceitável usar frases de terceiros?
Sim. A citação de filósofos, cientistas sociais, artistas, psicólogos, médicos é uma ótima estratégia de convencimento, desde que inclua no texto a voz de personalidades reconhecidamente autorizadas a opinar sobre o assunto. Mas não exagere: não faça de sua dissertação uma simples colagem de frases de outro, deixando de emitir sua opinião.

6)       Posso propor perguntas no texto?
Sim. Fazer perguntas pode ser uma boa estratégia tanto na introdução quanto no desenvolvimento ou na conclusão. A resposta nem precisa vir imediatamente na sequência, mas o texto deve dar pistas para que o leitor consiga, ao final, chegar a uma resposta.

7)       É aceitável empregar linguagem metafórica?
Sim. Desde que o leitor consiga entender as metáforas e outras figuras de linguagem empregadas na dissertação, é possível dar sabor à linguagem dissertativa por meio da conotação. A ironia é igualmente uma arma poderosa na crítica.

8)       Pode-se defender mais de uma opinião simultaneamente?
Em termos. O texto dissertativo não pode ser incoerente. Não se deve afirmar que existe um problema e depois chegar a uma conclusão contrária. Mas é possível mostrar que, em certas circunstâncias, uma ideia é verdadeira, enquanto em outras circunstâncias, ela deixa de o ser. Um fato pode ser vantajoso num certo aspecto, mas representa uma desvantagem em outros. Nesses casos, o importante é discutir quais são essas circunstâncias e quais são esses aspectos.

9)       É aconselhável analisar o tema sob mais de um ângulo?
Sim. É muito importante perceber que a maioria dos temas permite análises distintas, dependendo da perspectiva que se adote. É enriquecedor que a dissertação consiga — sem cair na contradição nem no simples impasse — revelar a perspectiva dos diferentes envolvidos (médicos/pacientes; governo/povo; jovens/pais; economistas/sindicalistas etc.) em relação ao tema discutido.

Izete Fragata Torralvo, Carlos Alberto Cortez Michillo . Linguagem em movimento .vol. 3. – 1. ed. – São Paulo: FTD, 2010, p. 55-56

domingo, 31 de julho de 2011

O homem trocado   (Luís Fernando Veríssimo)

O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.
- Tudo perfeito – diz a enfermeira, sorrindo.
- Eu estava com medo desta operação…
- Por quê? Não havia risco nenhum.
- Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos…
E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca
de bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de orientais, que nunca entenderam o fato de terem um filho claro com olhos redondos. Descoberto o erro, ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a mulher depois que esta não soubera explicar o nascimento de um bebê chinês.
- E o meu nome? Outro engano.
- Seu nome não é Lírio?
- Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e…
Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não fazia. Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na universidade. O computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.
- Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês passado tive que pagar mais de R$ 3 mil.
- O senhor não faz chamadas interurbanas?
- Eu não tenho telefone!
Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram felizes.
- Por quê?
- Ela me enganava.
Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas que não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico dizer:
- O senhor está desenganado.
Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma simples apendicite.
- Se você diz que a operação foi bem…
A enfermeira parou de sorrir.
- Apendicite? – perguntou, hesitante.
- É. A operação era para tirar o apêndice.
- Não era para trocar de sexo?

1)      Que elementos o cronista utilizou para gerar humor no texto?
2)      Justifique o título do texto.
3)      Indique que consequências os seguintes fatos têm na narrativa:
a)      Troca na maternidade
b)      A ida de outro bebê para sua mãe
c)      Engano do cartório.
d)      Engano do computador
e)      Engano da companhia telefônica
f)       Engano do médico
4)      Observe a fala do médico: “— O senhor está desenganado”. Qual o sentido da palavra “desenganado”?
5)      Por que o narrador não fica apreensivo com este diagnóstico?
6)      Por que, no contexto, o uso da palavra “ desenganado” gera humor?
7)      Comente o final da crônica. Como se produziu o humor nessa passagem?


Gabarito:
1) O fato de acontecer tudo errado com a personagem central.
2) O homem trocado:trocado na maternidade; trocaram seu nome; sua mulher o trocou por outro; trocaram a natureza de sua operação.
3) a- Foi criado por dez anos por um casal oriental.
    b- O marido a abandonou.
    c- Seu nome ficou sendo Lírio e não Lauro.
    d- Não pôde frequentar a universidade, embora tenha passado no vestibular.
    e- Pagava contas altíssimas e nem tinha telefone.
    f- Este lhe dissera que ele estava desenganado, ou seja que o paciente estava prestes a morrer.
4) Que não há mais salvação, que o paciente está prestes a morrer.
5) Porque ele sabe que sempre acontecem enganos com ele, então, certamente, ele não estaria "desenganado" e, consequentemente, sua doença teria cura.
6) Porque o texto apresenta o personagem como vítima de enganos durante toda a sua vida. O médico, ao dar seu diagnóstico, usa exatamente um termo derivado dessa palavra, com um prefixo de negação (des), logo significaria que ele não estaria enganado.
7) Novamente houve um engano em relação a ele, desta vez, extremamente complicado: sua operação era apenas de apendicite, mas realizaram a troca de sexo. O humor se estabelece juntamente com a surpresa e o absurdo da situação.